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O SURGIMENTO DO ESTADO EGÃPCIO

História do Egito Antigo - 30/05/2020 , ESTUDOS - PARTE III

Resenha resumo do livro: SHAW, IAN. The Oxford History of Ancient Egypt. 1ª Edição. United States, New York: Oxford University Press Inc., 2003. 525p
 

O SURGIMENTO DO ESTADO EGÍPCIO

 

          A fase Nacada III (3.200 – 3.000 a.C.), é a última fase do período pré-dinástico, de acordo com a revisão de Werner Kaiser[1], sobre a sequência de datas de William Matthew Flinder’s Petrie[2].   E foi durante este período que o Egito foi pela primeira vez unificado dentro de um grande estado territorial e politicamente consolidado.    A observação arqueológica de artefatos do final da fase Nacada II e o início da fase Nacada III, mostra que o material indígena e cultural do baixo Egito foi desaparecendo e foi sendo substituído por artefatos, especialmente potes de barros, derivados do alto Egito e da cultura Nacada.  Esta evidencia arqueológica é muitas vezes interpretada como uma indicação da política de unificação do Egito que ocorria por este tempo, porém, este material não evidencia ou implica necessariamente a organização politica e um número de alternativa e fatores sócio econômicos os quais podem ser propostos para esclarecer esta transformação.  Em uma tumba do período Nacada III, denominada de U-j e datada de 3. 150 a.C., embora roubada, e contendo muitos artefatos de osso e marfim e muita cerâmica egípcia, e aproximadamente 400 jarros importados da palestina e que, possivelmente continham vinho. Aí foram achadas 150 pequenas etiquetas escritas com o que aparenta ser o primeiro hieróglifo conhecido.  De acordo com o arqueólogo Gunter Dreyer, esta foi a tumba de um governante, possivelmente o Rei Escorpião.  Escavações feitas em Hieracômpolis demonstram ali, o aparecimento de uma elite de pessoas, o que, demonstra, que com a decadência política de Nacada, o local se destacou como um centro de adoração ao deus Hórus.   A unificação final do alto e baixo Egito pode ter sido alcançada com uma conquista militar, mas não existem muitas evidências para este fato.   Felizmente, existem importantes artefatos e cenas esculpidas deste período que foram escavadas em Hieracômpolis, como: - A “Cabeça de Maça em Pedra Decorativa” do rei Escorpião e a “Paleta” e a “Cabeça de Maça em Pedra Decorativa” do rei Narmer.  Todos estes três importantes objetos foram achados perto da área descrita como o “principal depósito”, por J. E. Quibell e F. W. Green quando eles escavavam o templo de Hórus em Hieracômpolis.  Estas peças foram certamente donativos reais para o templo e demonstram que Hieracômpolis era um importante centro de adoração na fase final de Nacada III.  

 

 

Figura 1: Scorpion macehead ( Museu Ashmolean ). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Scorpion_Macehead

 

 

Figura 2: O macehead de Narmer (à direita) no momento da descoberta, Hierakonpolis . Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Narmer_Macehead

 

 

Figura 3:Macehead Narmer ou Cabeça de Maça de Pedra Decorativa Narmer. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Narmer_Macehead

 

 

Figura 4: Narmer Macehead (desenho). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Narmer_Macehead

 

          As cenas e os símbolos da “Cabeça de Maça em Pedra Decorativa de Narmer”, representam capturados de guerra, saques e conquistas, que são também representados na “Cabeça de Maça do Rei Escorpião”.   Outro aspecto importante das descobertas arqueológicas que apontam o desaparecimento da fase Nacada são as cerâmicas escavadas em sites do norte do Egito e sul da Palestina e que tornam possível uma coordenação cultural e muito específica deste período nas duas regiões, demonstrando um contínuo contato com as culturas de Maadi no norte, foi substituindo a cultura Nacada.  O contato entre o norte do Egito e o sul da Palestina, foi neste período por via terrestre.   Arqueólogos Israelenses sugestionam que estas evidências representam uma rede comercial estabelecida e controlada pelos egípcios na primeira fase da era do Bronze, e certamente esta rede de comércio foi o maior fator do nascimento de assentamentos urbanos fundados na Palestina neste período.    

 

O INÍCIO DA PRIMEIRA DINASTIA

 

          Em meados de 3.000 a.C., o início de um estado dinástico emerge no Egito, fazendo o controle do vale do Nilo, do Delta e até a primeira catarata de Aswan, uma distância de aproximadamente 1.000 km.  Neste período se observam ainda, remanescentes da cultura Nacada II e Nacada III no Delta do Nilo, porém a política de controle das terras egípcias durante o primeiro período dinástico, são visíveis nos remanescentes de fortes e pontos altos na costa da ilha de Elefantine.  Com a primeira dinastia, o foco do desenvolvimento é deslocado do Sul para o norte e o primeiro estado Egípcio foi centralizado e controlado por um “Rei-deus” da região de Menfis.

 

Figura 5: Deslocamento Sul-Norte - 1ª dinastia

 

           O que é um fator único no início deste estado egípcio com a integração de governo sobre uma extensa região geográfica, em contraste com políticas contemporâneas (para aquele tempo) na Núbia, Mesopotâmia e Siro-Palestina é a característica própria e nativa desta unificação.  É provável que uma linguagem comum ou dialetos desse idioma, facilitaram a política de unificação.  Um resultado da expansão da cultura de Nacada através do norte do Egito é uma grande e elaborada administração estatal, o que, no início da primeira dinastia é gerenciado em parte pela descoberta da escrita, usando-se selos e rótulos fixados nos bens estatais.  Evidencias arqueológicas desse controle estatal, consistem em achados de nomes de reis da primeira dinastia em potes, selos, rótulos atados em recipientes e outros artefatos.  Tais evidências, sugestionam que um sistema de taxação foi implementado já na primeira dinastia.   Tumbas de altos oficiais têm sido achadas próximas do norte de Saqqara, e enterros de oficiais de todos os níveis foram achados em sites da região de Menfis. As evidências funerárias sugestionam que a região de Mênfis foi um centro administrativo do estado neste período com alta estratificação na organização social.   A maioria dos antigos Egípcios no início do período dinástico eram fazendeiros, vivendo em pequenas vilas.  O cultivo de cereais foi a base econômica do antigo estado egípcio. Saindo do quarto milênio a.C., as vilas desenvolveram cultivo de trigo, cevada, com incrível sucesso no domínio das condições ambientais relacionadas com as inundações do Nilo.    

          Na primeira dinastia existe evidências da expansão do Egito na baixa Núbia e a contínua presença no norte do Sinai e sul da Palestina. Evidências de instalações egípcias podem ser achadas no norte de Buhen, com estratos que possibilitam datar como primeira e segunda dinastias.  Cidades fortificadas no norte e sul da Palestina têm sido datados do II Período do Bronze, o que corresponde a Primeira dinastia, evidência esta atestada por uma conexão feita por Petrie em escavações de duas tumbas reais em Abidos, onde potes de porcelanas encontrados foram identificados como sendo da Palestina.

 

A INVENÇÃO E USO DA ESCRITA

 

          Dependendo de quando o primeiro estado egípcio surgiu, o primeiro uso conhecido da escrita (na tumba U-j de Abidos), pode datar politicamente a unificação do norte e sul do Egito.  Certamente para a Dinastia Zero, a escrita foi usada pelos escribas e artesãos. Apesar de alguns estudiosos crerem que o sistema de escrita egípcio foi inventado no fim do 4º milênio com influência Mesopotâmica, Ian Shaw diz que os dois sistemas de escrita são diferentes e mostram um provável inicio independente da escrita.  O início da codificação de sinais provavelmente ocorreu em Nacada III indo para a Dinastia Zero.  Estes primeiros hieróglifos, consistiam de elementos ideográficos (símbolos gráficos utilizados para representar uma palavra ou conceito abstrato) e sinais fonéticos.  A escrita nasce em dois contextos de necessidade: propósitos econômicos/administrativos e para arte real.   Na Primeira dinastia, os centros de culto e adoração, são santuários, construções muito simples, consistindo somente de estruturas de tijolos com menos de 8 metros.

 

[1]  Werner Kaiser (nascido em 7 de maio de 1926 em Munique , falecido em 11 de agosto de 2013) 1 era egiptólogo alemão. Seus trabalhos sobre a cronologia relativa do Alto Egito são uma referência importante nos círculos científicos.

[2] Sir William Matthew Flinders Petrie, FRS, FBA (Charlton, 3 de junho de 1853 — Jerusalém, Mandato Britânico da Palestina, 28 de julho de 1942) foi um arqueólogo e egiptólogo britânico nascido em Charlton, próximo a Greenwich, Londres, um pioneiro de metodologia sistemática em arqueologia que inventou um método para reconstituir a sequência de acontecimentos históricos em culturas antigas.