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CRONOLOGIA E MUDANÇAS CULTURAIS NO EGITO

História do Egito Antigo - 14/05/2020 , ESTUDOS - PARTE I

Resenha resumo do livro: SHAW, IAN. The Oxford History of Ancient Egypt. 1ª Edição. United States, New York: Oxford University Press Inc., 2003. 525p

 

 

PREFÁCIO

            Ian Shaw, é egiptólogo britânico e catedrático de arqueologia egípcia, além de escritor de vários livros, dentre eles, "The Oxford History of Ancient Egypt" ou “A História do Egito Antigo pela Universidade de Oxford”.   No Prefácio, Shaw, fala que o livro descreve a história desde o início e desenvolvimento da civilização do Egito Antigo, sua pré-história, indo até a sua incorporação ao império Romano.   Shaw informa que em 1961, Alan Gardiner’s apresentou “O Egito dos Faraós”, um estudo detalhado com atividades dos reis, governantes do Egito antigo até a chegada dos Ptolomeus.  Agora, em seu livro, “A História do Egito Antigo pela Universidade de Oxford”, concentra-se, não apenas nas mudanças políticas, mas também no desenvolvimento social, econômico, mudanças no processo religioso e ideológico e tendências no material cultural, na forma e estilos arquitetônicos, técnicas de mumificação e no fabrico de cerâmicas, além, das pinturas de paredes e novos tipos de evidências que tem, tornado acessível aos arqueólogos, fazerem pesquisas e tipos de escavações, em sites que eram anteriormente negligenciados.  Ele continua dizendo, que quanto a arqueologia, existe uma irregularidade nos registros, sendo que, alguns sites, podem ser vistos, através de um imenso número de diferentes tipos de recursos e outros podem ser somente tentativas de reconstrução por causa da falta de certos tipos de evidência, isto em decorrência, da preservação pobre do local, da escavação inadequada, etc...

 

CRONOLOGIA E MUDANÇAS CULTURAIS NO EGITO

 

            Ian Shaw, demonstra que toda história é relevante de alguma forma em sua estrutura cronológica e neste estudo de períodos muito antigos, a um acordo de tempo despendido para a construção de cada sistema de datação.  A primeira história escrita no Egito antigo ocorreu por mãos de um sacerdote chamado Maneto, no século III a.C. Nesta história, compreende-se o período faraônico de 3.100 a.C. até 332 d.C. sendo dividido em um número de períodos chamados de dinastias.  Cada uma das dinastias consiste de sequências de governos ou reinos, unificados por fatos como local de adoração real ou residência real.

            Quando se fala em cronologia do antigo Egito, os modernos cronologistas egiptólogos, combinam três abordagens básicas:

a)      O método de datação relativo: se baseia na escavação estratificada de um terreno e a tomada sequencializada da datação dos artefatos encontrados. Este sistema foi inventado por Flinders Petrie em 1899.

b)     O método de cronologia absoluta: o qual se baseia em registros de calendário e registros astronômicos obtidos de textos antigos.

c)      E por fim, o método radiométrico: onde o mais comum exemplo são as datações por radiocarbono e termoluminescência.

            É claro também ao pesquisador, que o relacionamento entre estudos baseados “em calendário” e estudos baseados na datação radiométrica, ou melhor estudos com “método de datação absoluta x método radiométrico”, tem sido relativamente ambivalente sobre os anos, carregando por assim dizer valores opostos, contrários e divergentes.   Desta forma, verifica-se que o sistema de datação por calendário, ou “datação absoluta”, qualquer que seja a margem de erro, é menor que o da datação por radiocarbono.

            No que tange aos fatos da pré-história a história do Egito antigo, Shaw informa que existe apenas um pequeno número de artefatos do período pré-dinástico tardio que podem ser usados como fontes históricas.   São elas:

-        As “Estelas Funerárias”, que são, na verdade, monolitos ou pedras erguidas com escritos,

-        As “Paletas Votivas”, onde existem escritos de oferecimentos em cumprimento a algum voto aos deuses,

-        Os “Maceheads” ou “Cabeça de Maça”, que são, artefatos em pedra na forma de uma cabeça,

-        E, os “Pequenos Rótulos”, feitos de madeira, prata ou marfim, os quais funcionavam como etiquetas, normalmente acessórios achados nos equipamentos funerários da elite.

            Os achados em sua maioria, são ligados a elite, relacionados a muitos diferentes tipos de atos reais, como a morte ou o enterro de um rei ou a devoção deste a um ou mais deuses.      Anais dos reis, fazendo o registro histórico também são encontrados.

            Shaw informa que, um importante registro histórico do período, é a “Pedra de Palermo” (Esta pedra, é um fragmento de pedra de basalto, na qual se gravaram de ambos os lados uma lista de reis egípcios desde a época pré-dinástica até a época de Neferircate, bem como os eventos associados aos seus reinados.    O fragmento encontra-se no museu arqueológico de Palermo, na ilha italiana da Sicília desde 1877 e foi provavelmente uma das fontes usadas pelo historiador Maneto para elaborar a sua lista dos reis egípcios).   O texto, enumera os anais dos reis do baixo Egito, iniciando a muitos milhares de anos, o que foi assumido, como tendo sido tomado por governantes mitológicos até o tempo do deus Hórus.  Linhas horizontais e verticais fazem indicação dos eventos memoráveis de cada ano e reinado real, registrando assim, cerimônias religiosas, taxações ou impostos, obras de edificações e as descrições das guerras reais.

            Além da “Pedra de Palermo”, a fonte básica usada por egiptologista para construir uma cronologia tradicional das mudanças políticas é Maneto, cuja história sobreviveu por meio da compilação de autores como Flávio Josefo, Africanos (Sextus Julius Africanus), Eusébio e George Syncellus.    A chamada “Lista dos Reis”, faz registro de datações com observações astronômicas, textual e documentos artísticos (como as estelas e relevos).    Como muitos outros povos antigos, os egípcios dataram importantes eventos políticos e religiosos de acordo com o número de anos considerando um ponto fixo na história, mas em termos dos anos, desde a ascensão e até o fim de um reinado.   É importante destacar que para os egípcios antigos, o reinado de cada novo rei, significava, na prática, um novo início de tempo.   Este fato foi talvez uma tendência “psicológica” para resguardar cada novo reino com um ponto inicial.

            Referente ao “Cânon de Turim”, um papiro Ramessídico datando do 12º século a.C., é mais informativo no que tange a lista dos reis egípcios conforme rela Shaw.  Possui razoável apuração dos reinos dos governantes da 1ª dinastia, com o governador Menes (3000 a.C.) e segue dentro de uma pré-história mitológica em um tempo quando os “deuses reinavam sobre o Egito”.

            Ao observar a atitude da moderna história do antigo Egito, verifica-se que esta usualmente atenta a ajuntar todas as vertentes de evidências, sejam: biografias individuais nas paredes das tumbas, listas de reis nas paredes dos templos, evidências da estratigrafia de solos escavados e um range de outras peças de informações.   Os registros sobreviventes de observações antigas do levante heliacal da “Estrela Cão – Sirius”, serve para fazer um link de reconstrução do calendário egípcio e por sua vez, deste com a atual cronologia.

            A deusa Sopdet, conhecida como Sothis no período greco-romano (332 a.C a 395 d.C.), foi a personificação da “estrela Cão”, com os gregos a chamando de Sirius.   Ela foi usualmente representada como uma mulher com uma estrela pousada em sua cabeça.  No calendário egípcio, Soptet, foi a mais importante das estrelas da constelação, conhecidas como “Estrelas Decanas”, e o “Levante de Sotis”, coincide com o início do ano civil egípcio ou ano solar a cada 1456 anos.   Esta rara sincronização do levante heliacal de Sopdet, com início no calendário civil egípcio, ocorreu em 139 d.C., durante o reinado do imperador Antonio Pius, porque o evento foi comemorado pela emissão de uma moeda especial em Alexandria.   Dois registros textuais do levante de Sotis datam dos reinos de Senusret III e Amenhotep I, a saber:

a)      Uma carta da 12ª dinastia, escrito do site de Lahum, no dia 16, mês 4, da segunda estação, no ano 7, do reino de Senusret III, com datação absoluta em 1872 a.C.;

b)     E, um documento da 18ª dinastia Tebana, chamado de “Papiro de Ebers”, escrito no dia 9, mês 3, da 3ª estação, no ano 9, do reino de Amenhotep I, com datação absoluta em 1541 a.C.

            Com estes dados, egiptologistas tem podido fazer estrapolações de datas absolutas para cada período faraônico com base em registros.   Não é possível, contudo, ter uma precisão total, pois depende do local onde a observação astronômica tenha sido feita, podendo ter sido em Menfis, Tebas ou Elefantina.

            Uma outra questão importante sobre a cronologia do Egito antigo é, segundo Shaw, a questão das co-regências, que são, períodos no qual dois reis estão governando simultaneamente.  Este sistema foi usado muito cedo no Reino Médio e consistia na transferência de poder com o mínimo de disrupção e instabilidade.  Assim, o sistema de datação neste período pode gerar dificuldades, produzindo por exemplo, as chamadas “duplas datas”, quando ambos sistemas de datas eram usados como datação em um momento.  Pode-se citar ainda como exemplo, fato ocorrido de co-regência no reino de Thutmose III e Hatshepsut.      

            A questão cronológica do Egito antigo, possui seus problemas, como vimos, os links entre as observações astronômicas e datas específicas, o problema das co-regências e a maneira dos egípcios datarem períodos faraônicos datados de acordo com um artificial “ano civil” de 365 dias, que foi raramente sincronizado com o real ano solar.  Existe também em curso, certamente um número de outros problemas históricos referente as fontes ligadas a Maneto, Canon Turin que devem ser avaliadas, lembrando é claro, que a história do Egito antigo, assim como de outras culturas antigas, tem momentos de sua história, mais e menos documentados.

Continua...